19 de out. de 2007

Eu - parte II - sou talvez


















(...)Sou do poema do Neruda, a que se expressa quando muda, sou bicuda
Sou a naftalina, sou a velha menina, a cajuína cristalina
Sou a que não sabe explicar, a que não para de falar, a que teme chorar
Sou a que joga rainho, amiga de um menininho, sou pintinho
Sou o ataque noturno, quiçá o peso diurno, segundo turno
Sou o domínio do sistema, a garota problema, sou serena
Sou a veia entupida, a torcida vencida, resolvida


Sou o mal comportamento, sou eterno pensamento um tormento no momento
Sou da música, a dança, a que quer segurança o resquício de esperança, sou criança
Sou a que quer atenção, sou amor no coração, sou um vão
Sou a menina magoada, a frase exagerada, a que não quer fazer nada
Sou a musica latina, la flaca cretina, o sol na cortina
Sou o braço forte, o vento norte, sou o corte
Sou mulher, sou a ama, sou a gueixa, a cigana
Sou doidivana.

Sou o torpor colorido, a beata arretada, o silêncio e o gemido.
Sou persona non gratta, sou castelo de areia.
Sou sereia.
Sou o romance engavetado, o violão desafinado, sou delírio.
Sou o afago contido, o autor desconhecido.
Sou suspiro.
Sou a caixa de surpresas, sou Maria Madalena, sou o Sonho de Valsa.
Sou estagiária formada, o dramalhão mexicano.
Sou o engano.

Sou coruja diurna, o estalido burlesco, o belo e o grotesco.
Sou a esfinge previsível, o conto descabido.
Sou o desconhecido.
Sou abelha rainha, obsessão e mania, sou Helena de Tróia.
Sou a adolescente sardenta, sou oito ou oitenta.
Sou tramóia.
Sou a proeminência insignificante, sou o grilo falante, sou o dedo mindinho.


Sou a atriz coadjuvante, o catchup picante.
Sou cão mansinho.
Sou a carência afetiva, a barata cascuda, a perereca da vizinha.
Sou diva desafinada, sou grifinória e sonserina.
Sou minha.
Sou Beatriz sou Geni, o côncavo e convexo, sou o seno e o co-seno.
Sou Bené sou Zé Pequeno. Sou o sereno.

Sou a quimera arfante, sou a mãe sou a amante, sou pulga atrás da orelha.
Sou o mistério insondável, sou Raí sou Otávio.
Sou pentelha.
Sou assim sou assado, sou o esmalte descascado, sou doidivana.
Sou a desengonçada, a esperta cigana.
Sou profana.
Sou a anomalia psíquica, a americana comunista, sou o ato libidinoso.


Sou charlatã sou centrada, sou tímida sou errada.

Sou o todo poderoso. Sou o carro blindado, sou o jeans desbotado, sou blasfêmia.
Sou adjetivo e predicado, sou o certo e o errado.
Sou fêmea.
Sou a repressão e a ardência, o ambíguo e o vago, sou a carícia.

Sou o resmungo afável, sou quiçá agradável. Sou blandícia.


Sou folia e trambolho, sou paixão sou estorvo, sou esplendor. Sou a escória da humanidade, sou orgulho e saudade.

Sou amor.

Sou a luz e a sombra, sou bomba.
Sou a cantilena noturna, sou alegre taciturna. Sou mais uma.


Sou eu, sou ninguém, sou você, sou alguém.

Sou a dor e o perdão, sou o sim e o não.

Sou talvez.







2 comentários:

Edson Marques disse...

Mírian,


Belíssimo poema!

Você é talvez, certamente...

Gostei dos teus comentários deixados no blog Mude.


Abraços, flores, estrelas..

NDORETTO disse...

Que tal essa camisetinha Baby-Look?

Existe um coração rubro
girando
girando
girando
Às vezes produz música
outras vezes conta histórias
da sua vida que fica enfiada nessa agulha!

Beijos,humorzinha.