25 de jan. de 2008

...





Certa vez, trabalhei em uma pequena empresa de Engenharia.
Foi lá que fiquei conhecendo um rapaz chamado Mauro.
Ele era grandalhão e gostava de fazer brincadeiras com os outros, sempre pregando pequenas peças.
Havia também o Ernani, que era um pouco mais velho que o resto do grupo.
Sempre quieto, inofensivo, à parte, Ernani costumava comer o seu lanche sozinho, num canto da sala.
Ele não participava das brincadeiras que fazíamos após o almoço, sendo que, ao terminar a refeição, sempre sentava sozinho debaixo de uma árvore mais distante.
Devido a esse seu comportamento, Ernani era o alvo natural das brincadeiras e piadas do grupo.
Ora ele encontrava um sapo na marmita, ora um rato morto em seu chapéu.
E o que achávamos mais incrível é que ele sempre aceitava aquilo sem ficar bravo.

Em um feriado prolongado, Mauro resolveu ir pescar no Pantanal. Antes, nos prometeu que, se conseguisse sucesso, iria dar um pouco do resultado da pesca para cada um de nós.
No seu retorno, ficamos todos muito animados quando vimos que ele havia pescado alguns dourados enormes.
Mauro, entretanto, levou-nos para um canto e nos disse que tinha preparado uma boa peça para aplicar no Ernani.
Mauro dividira os dourados, fazendo pacotes com uma boa porção para cada um de nós.
Mas, a 'peça' programada era que ele havia separado os restos dos peixes num pacote maior, à parte.
- "Vai ser muito engraçado quando o Ernani desembrulhar esse 'presente' e encontrar espinhas, peles e vísceras!", disse-nos Mauro, que já estava se divertindo com aquilo.
Mauro então distribuiu os pacotes no horário do almoço.
Cada um de nós, que ia abrindo o seu pacote contendo uma bela porção de peixe, então dizia: - "Obrigado!".
Mas o maior pacote de todos, ele deixou por último. Era para o Ernani... Todos nós já estávamos quase explodindo de vontade de rir, sendo que Mauro exibia um ar especial, de grande satisfação.
Como sempre, Ernani estava sentado sozinho, no lado mais afastado da grande mesa. Mauro então levou o pacote para perto dele, e todos ficamos na expectativa do que estava para acontecer.

Ernani não era o tipo de muitas palavras. Ele falava tão pouco que, muitas vezes, nem se percebia que ele estava por perto. Em três anos, ele provavelmente não tinha dito nem cem palavras ao todo. Por isso, o que aconteceu a seguir nos pegou de surpresa.
Ele pegou o pacote firmemente nas mãos e o levantou devagar, com um grande sorriso no rosto. Foi então que notamos que seus olhos estavam brilhando.
Por alguns momentos, o seu pomo de Adão se moveu para cima e para baixo, até ele conseguir controlar sua emoção.
- "Eu sabia que você não ia se esquecer de mim", disse com a voz embargada.
- "Eu sabia, você é grandalhão e gosta de fazer brincadeiras, mas sempre soube que você tem um bom coração". Ele engoliu em seco novamente, e continuou falando, dessa vez para todos nós:
- "Eu sei que não tenho sido muito participativo com vocês, mas nunca foi por má intenção. Sabe, eu tenho cinco filhos em casa, e uma esposa inválida, que há quatro anos está presa na cama. E estou ciente de que ela nunca mais vai melhorar. Às vezes, quando ela passa mal, eu tenho que ficar a noite inteira acordado, cuidando dela. E a maior parte do meu salário tem sido para os seus médicos e os remédios. As crianças fazem o que podem para ajudar, mas tem sido difícil colocar comida para todos na mesa.
Vocês talvez achem esquisito que eu vá comer o meu almoço sozinho, num canto... Bem, é que eu fico meio envergonhado, porque na maioria das vezes eu não tenho nada para pôr no meu sanduíche. Ou, como hoje, eu tinha somente uma batata na minha marmita.
Mas eu quero que saibam que essa porção de peixe representa, realmente, muito para mim. Provavelmente muito mais do que para qualquer um de vocês, porque hoje à noite os meus filhos...", - ele limpou as lágrimas dos olhos com as costas das mãos - hoje à noite os meus filhos vão ter, realmente, depois de alguns anos..." e ele começou a abrir o pacote...
Nós tínhamos prestado tanta atenção no Ernani, enquanto ele falava, que nem havíamos notado a reação do Mauro. Mas agora, todos percebemos a sua aflição quando ele saltou e tentou pegar o pacote das mãos do Ernani. Mas era tarde demais. Ernani já tinha aberto e pacote e estava, agora, examinando cada pedaço de espinha, cada porção de pele e de vísceras, levantando cada rabo de peixe.
Era para ter sido tão engraçado, mas ninguém riu.
Todos nós ficamos olhando para baixo. E a pior parte foi quando Ernani, tentando sorrir, falou a mesma coisa que todos nós havíamos dito anteriormente:
- "Obrigado!".
Em silêncio, um a um, cada um dos colegas pegou o seu pacote e o colocou na frente do Ernani, porque depois de muitos anos nós havíamos, de repente, entendido quem era realmente o Ernani.

Algumas semanas depois, a esposa de Ernani veio a falecer. Cada um de nós, daquele grupo, passou então a ajudar as cinco crianças.
Graças ao grande espírito de luta que elas possuíam, todas progrediram muito:
Carlinhos, o mais novo, tornou-se um importante médico.
Fernanda, Paula e Luisa montaram o seu próprio e bem-sucedido negócio: elas produzem e vendem doces e salgados para padarias e supermercados.
O mais velho, Ernani Júnior, formou-se em Engenharia; sendo que, hoje, é o Diretor Geral da mesma empresa em que eu, Ernani e os nossos colegas trabalhávamos.
Mauro, hoje aposentado, continua fazendo brincadeiras; entretanto, são de um tipo muito diferente: Ele organizou nove grupos de voluntários que distribuem brinquedos para crianças hospitalizadas e as entretêm com jogos, estórias e outros divertimentos.

Às vezes, convivemos por muitos anos com uma pessoa, para só então percebermos que mal a conhecemos.
Nunca lhe demos a devida atenção; não demonstramos qualquer interesse pelas coisas dela;
Ignoramos as suas ansiedades ou os seus problemas.

Não deixe isso acontecer com você!
Dê atenção as pessoas a sua volta, dê um sorriso, dê um abraço, dê uma palavra amiga.
Muitas vezes esses pequenos gestos podem ser tremendamente significativos para quem os recebe.

(Autor Desconhecido)

19 de jan. de 2008

Defesa da vida!



...Quando a questão é a defesa da vida, sou radical:
não abro concessões àqueles que representam a inércia, o comodismo, o tédio, a injustiça e a morte.
Nunca me relaciono com fanáticos pela normalidade.
Detesto hipocrisia.
Não compactuo com algozes da espontaneidade.
Não abro mão daquilo que hoje me é fundamental:
o corpo, a alma, a liberdade, a loucura, o amor e o riso.
Por isso é que radicalizei tão profundamente nas minhas razões absolutas.
Eu eliminei da minha vida, radicalmente, tudo que maltrata, tudo que amedronta, censura, inibe, separa, impede, cerceia, corta, machuca, sufoca.
Eu eliminei da minha vida tudo que é ciumento, possessivo, autoritário, mesquinho, rasteiro.
Por isso é que a vida flui,
maravilhosamente...


(Edson Marques)

Grandezas da vida...



Aprendi a olhar as grandezas da vida e valorizar nelas a simplicidade...
É como olhar o céu estrelado e escolher uma única estrela para admirar seus detalhes, seu brilho.....
Dar valor a saudades porque é a única capaz de me aproximar das pessoas que amo e que por algum motivo estão longe ou perdi o contato, através das boas recordações que marcaram um momento único.....
Olhar o horizonte com muita paciência tendo sempre a certeza que, atrás da tempestade virá um sol forte....
Viver e continuar aprendendo com as pessoas que cruzam meu caminho, mesmo que elas tenham sido mesquinhas, maliciosas ou maravilhosas ....
O que importa é sempre acreditar que existe um Ser maior que tudo e que todos....amá-Lo acima de tudo...
Não troco o que sou hoje pelo que fui ontem....mas me lembro muito bem do passado para melhorar meu futuro.....

"O medo de perder, tira a vontade de ganhar...!!!"
(desconheço autoria)

12 de jan. de 2008

Árvore Genealógica

- Mãe vou casar!
- Jura meu filho?! Estou tão feliz! Quem é a moça?
- Não é moça. Vou casar com um moço. O nome dele é Murilo.
- Você falou Murilo... Ou foi meu cérebro que sofreu um pequeno surto psicótico?
- Eu falei Murilo. Por que mãe? Tá acontecendo alguma coisa?
- Nada não... Só minha visão que está um pouco turva. E meu coração que talvez dê uma parada. No mais tá tudo ótimo.
- Se você tiver algum problema em relação a isto melhor falar logo...
- Problema? Problema nenhum. Só pensei que algum dia ia ter uma nora... Ou isso.
- Você vai ter uma nora. Só que uma nora... Meio macho. Ou um genro meio fêmea. Resumindo: uma nora quase macho tendendo a um genro quase fêmea...
- E quando eu vou conhecer o meu.. A minha... O Murilo?
- Pode chamar ele de Biscoito. É o apelido.
- Tá ! Biscoito... Já gostei dele.. Alguém com esse apelido só pode ser uma pessoa bacana. Quando o Biscoito vem aqui?
- Por quê? - Por nada. Só pra eu poder desacordar seu pai com antecedência.
- Você acha que o Papai não vai aceitar?
- Claro que vai aceitar! Lógico que vai. Só não sei se ele vai sobreviver... Mas isso também é uma bobagem. Ele morre sabendo que você achou sua cara-metade. E olha que espetáculo: as duas metades com bigode.
- Mãe que besteira... Hoje em dia praticamente todos os meus amigos são gays.
- Só espero que tenha sobrado algum que não seja... Pra poder apresentar pra tua irmã.
- A Bel já tá namorando.
- A Bel? Namorando?! Ela não me falou nada... Quem é?
- Uma tal de Veruska.
- Como?
- Veruska...
- Ah bom! Que susto! Pensei que você tivesse falado Veruska.
- Mãe!!
- Tá tá... Tudo bem... Se vocês são felizes. Só fico triste porque não vou ter um neto.
- Por que não? Eu e o Biscoito queremos dois filhos. Eu vou doar os espermatozóides. E a ex-namorada do Biscoito vai doar os óvulos.
- Ex-namorada? O Biscoito tem ex-namorada?
- Quando ele era hétero... A Veruska.
- Que Veruska?
- Namorada da Bel...
- Peraí. A ex-namorada do teu atual namorado... É a atual namorada da tua irmã. Que é minha filha também... Que se chama Bel. É isso? Porque eu me perdi um pouco...
- É isso. Pois é... A Veruska doou os óvulos. E nós vamos alugar um útero.
- De quem?
- Da Bel.
- Mas logo da Bel ?! Quer dizer então... Que a Bel vai gerar um filho teu e do Biscoito. Com o teu espermatozóide e com o óvulo da namorada dela que é a Veruska .
- Isso.
- Essa criança de uma certa forma vai ser tua filha, filha do Biscoito, filha da Veruska e filha da Bel.
- Em termos...
- A criança vai ter duas mães : você e o Biscoito. E dois pais: a Veruska e a Bel.
- Por aí...
- Por outro lado a Bel além de mãe é tia... Ou tio... Porque é tua irmã.
- Exato. E ano que vem vamos ter um segundo filho. Aí o Biscoito é que entra com o espermatozóide. Que dessa vez vai ser gerado no ventre da Veruska... Com o óvulo da Bel. A gente só vai trocar.
- Só trocar é? Agora o óvulo vai ser da Bel. E o ventre da Veruska.
- Exato!
- Agora eu entendi! Agora eu realmente entendi...
- Entendeu o quê?
- Entendi que é uma espécie de swing dos tempos modernos!
- Que swing mãe?!
- É swing sim! Uma troca de casais... Com os óvulos e os espermatozóides uma hora no útero de uma outra hora no útero de outra...
- Mas...
- Mas uns tomates! Isso é um bacanal de última geração! E pior... Com incesto no meio!
- A Bel e a Veruska só vão ajudar na concepção do nosso filho só isso...
- Sei! E quando elas quiserem ter filhos...
- Nós ajudamos.
- Quer saber ? No final das contas não entendi mais nada. Não entendi quem vai ser mãe de quem quem vai ser pai de quem, de quem vai ser o útero o espermatozóide... A única coisa que eu entendi é que...
- Que...?
- Fazer árvore genealógica daqui pra frente vai ser foda!

(Luiz Fernando Veríssimo)

11 de jan. de 2008

Olhos de Escudo!



Olhos de Escudo
(Isabella Taviani)

Ei, volte aqui, não tenha medo
Os meus olhos não escondem segredos
Eu sou assim mesmo
Ei, volte aqui, aonde pensa que vai?
Logo agora que sentou à minha frente e diz
que o vento leva o meu cheiro até você
Mas tenho que confessar
Achei que iria ser mais fácil
Detesto imaginar
A possibilidade de fracasso
É que eu tenho que derrubar os seus muros
Preciso desvendar esse teu mundo
Eu sei que vou desmoronar
Seus alicerces sempre tão seguros
Até você baixar a guarda
Dos teus olhos de escudo
Eu vou entrar, vou entrar
Teus olhos de escudo
Deixa estar, deixa estar
Ei, desliga não
Me deixa gastar mais o teu tempo
Me explica o que eu não entendo
Ei, volte aqui, aonde pensa que vai?
Logo agora que sentou à minha frente e
diz que o vento leva o meu cheiro até você